21.4.08

Ricardo Almeida: Costurando ternos e talentos



Ele é considerado um dos principais nomes da moda brasileira e o estilista preferido de muitos homens famosos. Afinal, os cortes ousados dos ternos de Ricardo Almeida vestem desde o ator Marcello Antony e o cantor Milton Nascimento até o presidente Lula. Ex-corredor de motocicleta, ele entrou meio por acaso no mundo da moda, trabalhando como representante de vendas de uma confecção. Em 1977, começou a se aprimorar em modelagem, mas logo criou a própria marca (seis anos depois), que hoje é referência de bom gosto e elegância. Um terno Ricardo Almeida custa cerca de R$ 3 mil. Mas, mais do que vender roupa, Ricardo Almeida vende conceito e qualidade. E para ampliar essa idéia, um dos maiores sonhos do estilista é montar uma universidade de moda. Como uma espécie de embrião desse grande projeto, nasceu o Instituto Ricardo Almeida que acabou de inaugurar sua segunda unidade, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo (SP). É uma escola de formação de mão-de-obra para a indústria da confecção.
O Jornal Carreira & Sucesso foi ao evento e conversou com o consagrado profissional sobre a trajetória dele, desafios e mercado de trabalho.

Jornal Carreira & Sucesso: Você caiu meio por acaso no mundo da moda, não?
Ricardo Almeida: "Na realidade, quando eu tinha seis anos pensava em mexer com moda, correr de carro e ser fazendeiro. Meu pai corria de carro, meu avô era fazendeiro e eu não sei por que achava legal moda. Quem sabe porque tivesse as meninas desfilando...(risos)? Aí eu fui correr de motocicleta, fazer moda, no início feminina e masculina, e o plano do fazendeiro ficou para a minha mãe. Quem sabe para o futuro (risos)?"

C&S: Quando você viu que era hora de investir em uma marca sua e depois de um tempo montar sua própria loja?
Almeida: "Há 20, 21 anos eu me desliguei de uma sociedade e fui montar a minha marca. Pensei em vários nomes e acabei optando por colocar o meu nome, porque quem tem uma marca com o seu nome – acredito eu - faz uma marca mais sólida. Acredito que a pessoa vai se preocupar mais com o produto, porque ninguém quer manchar o próprio nome. E isso é uma tendência mundial, dos estilistas terem as marcas com os nomes deles. Na época, fiquei um pouco apreensivo porque meu nome é de ascendência portuguesa, não italiana. Os italianos sempre tiveram muita força no meio da moda. Mas, graças a Deus, eu consegui dar uma solidez à marca e hoje eu acho que o nome português está dando certo (risos)!"

C&S: Essa questão da identidade em uma marca é muito importante, não é mesmo? Porque hoje a gente fala: não é um terno, não é uma roupa, é um Ricardo Almeida...
Almeida: "É um todo. Além da qualidade, vem a história da pessoa. Sempre tem algo a mais, é a cara da pessoa. Você pega um quadro do Volpi, tem a cara do Volpi, um Van Gogh tem a cara do Van Gogh. E a roupa do Ricardo Almeida tem a cara Ricardo Almeida."

C&S: É um conceito...
Almeida: "É. E isso é muito importante em uma coleção: a pessoa conseguir identificar de quem é a roupa, ter uma assinatura. Aí você está fazendo um trabalho consistente."
C&S: Você está inaugurando a segunda unidade do Instituto Ricardo Almeida. Qual o principal foco desse projeto que já virou uma realidade?
Almeida: "A formação profissional para máquinas de costura industrial. Além de a gente trabalhar ao lado da pessoa, tanto homens quanto mulheres, trabalhamos também a auto-estima. Tendo um lugar super bem montado, limpo, a pessoa aprende o lado de higiene, por exemplo, porque não pode ter linha caindo no chão. E também o lado social. Formamos na outra unidade senhoras acima de 70 anos, e no primeiro lugar em que elas foram fazer teste conseguiram emprego. Então, a gente trabalha além da formação profissional, a auto-estima da pessoa, um lado de convivência geral."

C&S: Ainda falta mão-de-obra especializada neste mercado?
Almeida: "Ainda falta não. Não tem mão-de-obra especializada. Se faltasse ainda estava bom. É uma coisa muito diferente. Quando eu ponho um anúncio para costureira, não aparece ninguém. É um problema complicado."

C&S: Como você analisa a moda brasileira atualmente?
Almeida: "Bom, tem havido um grande desenvolvimento nesses últimos dez anos. As confecções e os criadores que antigamente, 20, 30 anos atrás, copiavam muito o que havia lá fora hoje criam. Há vários nomes muito fortes no Brasil realmente criadores, e não copiadores. Então, eu vejo vários estilistas vendendo no mercado internacional. O problema é que falta mão-de-obra qualificada para poder dar suporte para as exportações. Quando você fala em volumes pequenos até é possível, mas se vier alguém querendo comprar 100 mil peças, não há quem produza aqui no Brasil. É complicado. A nossa idéia é um dia poder fazer isso. Não adianta você ter criadores, idéias, condições de compra de tecido e não ter quem produza."

C&S: São tantos anos nesse mundo da moda, sendo considerado um dos grandes nomes da moda brasileira e mundial. Você atribui a que esse sucesso?
Almeida: "Eu atribuo primeiro à minha intuição, porque sem criatividade e intuição você pode não chegar lá. E depois à dedicação. Eu também tive uma boa formação infantil e aprendi muita coisa. Porque, hoje, para você estar em qualquer empresa, você precisa entender de financeiro, produção, criação, marketing, RH, saber se comunicar.Se você não sabe falar com o seu funcionário, ele vai embora e você não vai construir uma equipe. Tem de ter discernimento."

C&S: O que é, afinal, um homem de bom gosto, um homem elegante?
Almeida: "Um homem elegante é um homem que está adequado na maneira de se portar e de se vestir, adequado ao lugar aonde vai. Se eu estiver de terno e gravata na praia de Copacabana, ao meio-dia, tomando uma água de coco, no meio da areia, eu não vou estar elegante, porque elegância também envolve atitude. Não adianta você ir fazer um trabalho social e chegar lá de Ferrari e jóias, não faz sentido. É preciso saber que para ser elegante não se pode agredir as pessoas que estão ao seu redor. Ser elegante é você saber como se portar em cada lugar que você está indo, tanto na roupa quanto na atitude."

Matéria de Letícia Fagundes para o jornal eletrônico Carreira e Sucesso .

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